Quando o assunto é guitarra,
é inegável que, por vezes, o objetivo de guitarristas iniciantes é
chegar num nível em que possam tocar numa velocidade ao menos razoável.
Obviamente que tocar solos como "Eruption", de Eddie Van Halen, por exemplo, é um atrativo e tanto.
No entanto, defendo que, em se tratando de guitarra,
velocidade não é tudo. Claro que tocar em alta velocidade às vezes não
é nenhum demérito; gosto de guitarristas como Paul Gilbert, Steve Vai, Joe Satriani,
Andy Timmons, entre outros. Mas abordo aqui o primeiro guitarrista que
me impactou antes de eu iniciar o estudo da guitarra: David Gilmour.
Antes de ter qualquer noção sobre escalas, técnicas e outros assuntos sobre guitarra,
Gilmour foi o cara que me deu um soco no estômago com aqueles solos
longos, feéricos e cheios de feeling. Mas vamos ao que importa: o
"estilo David Gilmour" de tocar guitarra.
Antes
de mais nada, as linhas a seguir talvez soem um tanto "técnicas",
talvez didáticas, mas de fácil entendimento. Analisando o modo como
Gilmour toca durante onze anos, pude concluir que ele tem suas bases
fincadas no blues, o que é bastante óbvio, e mais óbvio ainda é o fato
de ele querer preencher cada compasso da música com o mínimo de notas
(em algumas ocasiões)
Mas percebam bem: é complicado "dizer
muito" na música com tão poucas notas. Para isso, Gilmour se vale de
alguns artifícios. Primeiro, a famigerada escala pentatônica, escala
que persegue os guitarristas até a morte. Através dela, Gilmour criou
seus próprios licks (desenhos de escalas).
No segundo solo de
"Comfortably Numb" é possível notar essa questão sobre licks: notem as
partes que ele começa a solar nas cordas mais agudas e termina a escala
na corda mais grave (mi). Isso é uma de suas marcas registradas.
Guitarristas atuais, como John Petrucci, costumam fazer o inverso,
saindo das cordas mais graves para as mais agudas.
Agora, duas
ferramentas importantíssimas que perfazem seu estilo: bends e vibratos.
Cada guitarrista tem sua pegada própria ao executar bens e vibratos,
mas no caso de Gilmour isso chega a ser absurdamente notório. E a coisa
fica melhor ainda quando ele executa as duas técnicas ao mesmo tempo,
como no solo de "Sorrow". O que quero dizer é: Gilmour estica a corda
até certo tom e executa o vibrato, conferindo mais
"dramaticidade" aos
seus solos.
E, em certos momentos,ele "sufoca" os ouvintes com as
chamadas "pausas", técnica típica do blues. Nesse caso, o solo de
"Another Brick in the Wall (Part 2)" é emblemático. E, para não me
estender muito, finalizo com os arpejos. Quando Gilmour sola, ele
geralmente pensa em cada nota preenchendo os acordes da progressão
harmônica. Exemplo disso é "Time", em que ele desfila arpejos durante
quase toda a música. Em outras palavras, arpejar significa tocar cada
nota respeitando as notas que compõem determinado acorde.
Agora junte
tudo isso ao seu bom gosto em relação a timbres e pedais de efeito.
Às vezes, o difícil é fazer o que aparenta ser fácil e, acreditem, apesar da aparente simplicidade, quem
estuda guitarra
há de concordar: tocar os solos de Gilmour e, principalmente, tocar com
a mesma intenção
do guitarrista, não é tarefa das mais fáceis.